Olá!!!
Como passa o tempo.
Hoje estava olhando em alguns sites que visito regularmente, e nesta manhã de domingo, no exato instante em que escrevo este texto, há 17 anos eu estava cochilando nas cadeiras da tribuna de honra do estádio do Maracanã.
Era exatamente uma manhã de domingo, como hoje.
Havia passado a noite na estrada, entre São Paulo e Rio de Janeiro, numa aventura.
A rádio Clube (hoje Globo Itapetininga), onde comecei, havia transmitido todo o campeonato brasileiro.
E a final, como o São Paulo abandonou a fase decisiva, apesar de favorito, mesmo sendo o então campeão (estava nas finais da libertadores), o Flamengo teve uma excepcional reação e bateu Vasco e Santos, no quadrangular.
Do outro lado, o Botafogo aproveitou a bobeira dos adversários do grupo B e chegou forte pra decisão do brasileiro de 92.
O destaque do Botafogo era o Renato Gaucho. Do Flamengo, Junior em seus últimos momentos de carreira.
Dois jogos. Duas viagens ao Rio de Janeiro.
Pegamos o ônibus Cômeta e fomos a madrugada inteira viajando.
Chegamos nas portas do Maracanã às 7 da manhã. Estava tudo meio largado (não era como hoje) e como bem público, parecia um parque aberto.
Fomos entrando e quando vimos estávamos nas tribunas de honra. Poucos metros de onde estava nossa cabine.
Fiquei ali sentado olhando e imaginando quantos presidentes da república, quantos rei e rainhas tinham se sentado nasquelas cadeiras estofadas vermelhas, bem acima das cabines de tevê.
E eu ali, sozinho, com todas a minha disposição. Como os técnicos da então TELERJ (não imagina, outro dia conto, a propina que rolou), não tinham chegado pra instalar a linha, então não havia o que fazer.
Fiquei ali, vendo o sol despontar sobre a estrutura das arquibancadas.
À minha direita, dava pra ver o Cristo Redentor. No alto. Uma visão magnífica. O Maracanã e o Cristo. O sol nascendo.
Cochilei das 7:30 às 9 horas. Esparramado nas cadeiras da tribuna de honra.
Naquele dia, antes do jogo, caiu um pedaço da arquibancada. Acredite, eu estava poucos metros da arquibancada, só escutei gritos bem atrás de mim. Eu estava no gramado e dei dois passos pra trás e vi que um dos sujeitos que caiu, estava cerca de 4 metros de mim. Escutei o grito do cara.
Olhei pra baixo e vi o sujeito estatelado e se contorcendo de dor, com fratura.
De repente um helicóptero pousando atrás do gol, onde eu estava e eu estava encurralado, todos já tinham se afastado e eu não tinha pra onde ir.
Senti as hélices pousando. O bombeiro só gritava pra eu ficar parado, pois o piloto iria pousar poucos metros de mim. Fiquei congelado. Fechei os olhos. E só sentia um p... barulhão. E as hélices fazendo vento como se tivesse um ventilador ligado no último, parecendo estar poucos centímetros da cabeça.
Quando o treco pousou, eu pude me mover e sair dali.
Eu estava entre o fosso e o helicóptero. O estádio estava lotado. E quieto.
Não foi a primeira vez que fatos históricos aconteceram e eu estava ali, anônimo, poucos metros, como testemunha ocular da história.
Putz, hoje quando vi, fazem 17 anos. Eu estava no meu primeiro ano de carreira oficial.
Nossa. Como passa.
Me lembro de no final do jogo, Flamengo campeão, eu entrar no vestiário do Flamengo e conversar com o Junior. O engraçado é que o vestiário estava vazio. Eu já tinha desligado equipamentos.
Estava passando no corredor, vi o vestiário aberto e entrei. Tinham 3 garotos. E um jogador sentado, terminando de colocar tênis. Era o Junior. O principal astro do jogo e manchetes dos jornais.
Ele olhou e disse "senta aí, garoto". Eu me sentei ao lado dele. Ele se trocava e conversando com os 3 guris ao seu lado.
Eu me lembro de balbuciar "parabéns". Ele olhou e continuou se trocando e respondeu "obrigado"... e disse "não foi fácil, acho que é meu último".
De repente, veio um gordo não sei de onde e o chamou... ele se levantou e saiu. Fiquei ali, sentado, olhando o vazio vestiário do Maracanã. Me lembro de uma garrafa de champagne em cima da pia. E alguns vestígios de festa pelos cantos do vestiário, que tinha restos de grama e terra espalhado perto dos armários.
Muitos copos de plástico. E um chuveiro ligado.
Sai do vestiário e quando encontrei meus companheiros fora do estádio para voltarmos, lá fora um baita trânsito e uma parafernália de gente. Todo mundo gritando o nome do Junior.
Ah, quando saí, desliguei o último chuveiro.
Abração.
RICARDO LEITE.
FONTE: http://www.ricardoleitecomvoce.com.br/
Como passa o tempo.
Hoje estava olhando em alguns sites que visito regularmente, e nesta manhã de domingo, no exato instante em que escrevo este texto, há 17 anos eu estava cochilando nas cadeiras da tribuna de honra do estádio do Maracanã.
Era exatamente uma manhã de domingo, como hoje.
Havia passado a noite na estrada, entre São Paulo e Rio de Janeiro, numa aventura.
A rádio Clube (hoje Globo Itapetininga), onde comecei, havia transmitido todo o campeonato brasileiro.
E a final, como o São Paulo abandonou a fase decisiva, apesar de favorito, mesmo sendo o então campeão (estava nas finais da libertadores), o Flamengo teve uma excepcional reação e bateu Vasco e Santos, no quadrangular.
Do outro lado, o Botafogo aproveitou a bobeira dos adversários do grupo B e chegou forte pra decisão do brasileiro de 92.
O destaque do Botafogo era o Renato Gaucho. Do Flamengo, Junior em seus últimos momentos de carreira.
Dois jogos. Duas viagens ao Rio de Janeiro.
Pegamos o ônibus Cômeta e fomos a madrugada inteira viajando.
Chegamos nas portas do Maracanã às 7 da manhã. Estava tudo meio largado (não era como hoje) e como bem público, parecia um parque aberto.
Fomos entrando e quando vimos estávamos nas tribunas de honra. Poucos metros de onde estava nossa cabine.
Fiquei ali sentado olhando e imaginando quantos presidentes da república, quantos rei e rainhas tinham se sentado nasquelas cadeiras estofadas vermelhas, bem acima das cabines de tevê.
E eu ali, sozinho, com todas a minha disposição. Como os técnicos da então TELERJ (não imagina, outro dia conto, a propina que rolou), não tinham chegado pra instalar a linha, então não havia o que fazer.
Fiquei ali, vendo o sol despontar sobre a estrutura das arquibancadas.
À minha direita, dava pra ver o Cristo Redentor. No alto. Uma visão magnífica. O Maracanã e o Cristo. O sol nascendo.
Cochilei das 7:30 às 9 horas. Esparramado nas cadeiras da tribuna de honra.
Naquele dia, antes do jogo, caiu um pedaço da arquibancada. Acredite, eu estava poucos metros da arquibancada, só escutei gritos bem atrás de mim. Eu estava no gramado e dei dois passos pra trás e vi que um dos sujeitos que caiu, estava cerca de 4 metros de mim. Escutei o grito do cara.
Olhei pra baixo e vi o sujeito estatelado e se contorcendo de dor, com fratura.
De repente um helicóptero pousando atrás do gol, onde eu estava e eu estava encurralado, todos já tinham se afastado e eu não tinha pra onde ir.
Senti as hélices pousando. O bombeiro só gritava pra eu ficar parado, pois o piloto iria pousar poucos metros de mim. Fiquei congelado. Fechei os olhos. E só sentia um p... barulhão. E as hélices fazendo vento como se tivesse um ventilador ligado no último, parecendo estar poucos centímetros da cabeça.
Quando o treco pousou, eu pude me mover e sair dali.
Eu estava entre o fosso e o helicóptero. O estádio estava lotado. E quieto.
Não foi a primeira vez que fatos históricos aconteceram e eu estava ali, anônimo, poucos metros, como testemunha ocular da história.
Putz, hoje quando vi, fazem 17 anos. Eu estava no meu primeiro ano de carreira oficial.
Nossa. Como passa.
Me lembro de no final do jogo, Flamengo campeão, eu entrar no vestiário do Flamengo e conversar com o Junior. O engraçado é que o vestiário estava vazio. Eu já tinha desligado equipamentos.
Estava passando no corredor, vi o vestiário aberto e entrei. Tinham 3 garotos. E um jogador sentado, terminando de colocar tênis. Era o Junior. O principal astro do jogo e manchetes dos jornais.
Ele olhou e disse "senta aí, garoto". Eu me sentei ao lado dele. Ele se trocava e conversando com os 3 guris ao seu lado.
Eu me lembro de balbuciar "parabéns". Ele olhou e continuou se trocando e respondeu "obrigado"... e disse "não foi fácil, acho que é meu último".
De repente, veio um gordo não sei de onde e o chamou... ele se levantou e saiu. Fiquei ali, sentado, olhando o vazio vestiário do Maracanã. Me lembro de uma garrafa de champagne em cima da pia. E alguns vestígios de festa pelos cantos do vestiário, que tinha restos de grama e terra espalhado perto dos armários.
Muitos copos de plástico. E um chuveiro ligado.
Sai do vestiário e quando encontrei meus companheiros fora do estádio para voltarmos, lá fora um baita trânsito e uma parafernália de gente. Todo mundo gritando o nome do Junior.
Ah, quando saí, desliguei o último chuveiro.
Abração.
RICARDO LEITE.
FONTE: http://www.ricardoleitecomvoce.com.br/