terça-feira, 30 de março de 2010

30/03/10 - Chato

Olá!!!

A revista da ESPN a ser lançada nesta semana referente ao mês de abril chega com o goleiro Rogério Ceni na capa.

Pra quem não sabe, a ESPN é o canal mundial de esportes mais conhecido. No Brasil, há a ESPN Brasil, a cabo.

O teor da matéria é muito interessante e vem coroar aquilo que já escrevi aqui muitas vezes: a avaliação das pessoas sobre certos comportamentos.

Na matéria, Rogério Ceni brinca com sua fama de chato.

E tem uma resposta pronta pra isso: se não fosse chato não teria ganho nada.

Como todo jovem ou personalidade que utiliza microfone, suas declarações no começo da carreira renderam rejeição por parte de algumas pessoas.

Lembro-me de um amistoso da seleção brasileira onde não reconheceu uma falha. Até hoje tem gente que guarda uma imagem ruim dele.

O detalhe é que esse jogo aconteceu no milênio passado. Foi em 1997.

Passados 13 anos, há pessoas que ficam procurando tudo que ele fala para tentar achar ou interpretar algo nas entrelinhas.

A matéria da ESPN é bem simpática. Rogério brinca com sua fama de chato. A própria revista reconhece que não há nada que desabone o jogador.

O que existe é um pré-julgamento por parte das pessoas. Tanto é que todos que passam pelo seu clube, o São Paulo Futebol Clube, saem falando maravilhas dele. Dos mais jovens aos rodados internacionalmente.

É um dos jogadores mais cumprimentados pelos adversários após as partidas. Jogadores do Boca já o cercaram no Morumbi em busca de uma foto.

Mesmo assim, como alguns jornalistas anti-rogério insistem, a matéria abordou o assunto e lembrou que Rogério nunca fez dancinhas, nunca tirou sarro de adversários nominalmente e muito menos bateu boca no gramado com jogadores.

O que irrita os adversários é o conteúdo das respostas. Palavras bem colocadas. E sua mania de perfeição.

Digo isso porque você não faz idéia do quanto sou chato.

No interior ou em São Paulo, todas pessoas do meio não podem dizer que sou mal elemento ou que sou mal caráter.

No entanto, há alguns que com certeza me acham um chato e não gostam de mim. Isso é natural.

Perdi o vínculo com algumas pessoas no interior em virtude da minha chatice. Lembro-me de um colega que deixou de "gostar" de mim porque eu vivia pegando no pé dele devido aos constantes atrasos.

Não contente, esse colega começou a chegar bêbado. Ou grogue, pra ser mais delicado. Cobrei uma postura. E ao invés de parar de chegar grogue ele preferiu espalhar que eu era o cara mais chato do mundo.

Em São Paulo, no começo do trabalho pra divulgar o programa do padre Marcelo eu ia de Kombi de bairro em bairro. Participava do programa por telefone colocando as pessoas pra falar com o padre.

As meninas da rádio que me acompanhavam me achavam o mala do momento. Eu vivia pegando no pé preocupado com o bom atendimento das pessoas que deixavam suas casas para ir até a Kombi. Uma vez enchi o saco de uma delas porque já estávamos indo embora e uma senhorinha chegou até a Kombi com um pedido de oração e a mocinha disse que já tinha passado do horário. O chatão aqui teve de agir e anotar o pedido da senhorinha.

Quando fomos pra Globo eu avisei o padre da minha chatice. E criei muitos que me achavam chato.

Viviam fazendo piadinhas sobre o padre no corredor. Eu passava e perguntava qual era a piada. E defendia o padre das críticas que considerava injusta.

Não era sargento. Não era radical. E todos sabem que odeio fanatismo. Mas, defendia com unhas e dentes os interesses do programa.

Se o ibope caia eu procurava incendiar tudo. Não admitia que caísse dois meses seguidos nem a pau.

Sabia que o padre fazia muito bem a parte dele.

Então eu fazia o programa em pé, enchendo o saco do operador para não errar nem uma trilha. Azucrinava o comercial e vivia em pé de guerra com a galera da parte técnica pra não cair a rebimboca da linha do padre.

Eu adorava todas as pessoas. E sei que gostavam de mim. Mas, eu tinha uma baita fama de chato.

Pegava no pé até sobre os ouvintes que entravam no ar. Tinha de ser alguém que estava realmente a fim de falar com o padre. Alguém realmente necessitado de uma palavra de Deus. Não podia ter ouvinte paraquedista. Tinha de estar afim mesmo de participar do programa.

Ficava vistoriando os emails antigos e passava a manhã toda mandando e respondendo emails do Brasil todo querendo saber porque tal pessoa tinha parado de ouvir o programa. E não descansava enquanto não a convencia a voltar. Cada gota era importante para o oceano.

Meu amigo Manoelzinho ficava sentado na sala comigo. É testemunha de que, quando a conversa por email não fluia, eu pegava o telefone e ligava na casa da pessoa. Nem que fosse em Quixeramobim. Queria ouvir da pessoa.

Ficava puto da vida com muita gente falando dentro do estúdio. Ou quando deixavam farelo de pão no computador.

Adorava todos que faziam isso. Mas, pegava no pé porquê eu não sei. Porque eu era e sempre fui um chatão.

Os resultados não acontecem por acaso. Relaxava quando o ibope decolava. E virava o monstro do corredor quando caia.

Ou seja, entendo o Rogério Ceni. Compreendo que algumas pessoas se incomodam com quem está acostumado a fazer as coisas certas da maneira certa.

Quando me chamam de chato, eu adoro. Sinal de que fazer a coisa certa está incomodando aquela pessoa também.

Não tenho orgulho de ser chatão. Mas, adoro o fato de sê-lo.

Adoraria que tivessem mais chatos no trânsito, na política, na administração pública, no esporte, na polícia, nas escolas, nos tribunais e nas igrejas.

Tudo tem de ter o bom senso. E o discernimento.

Mas, garanto, você não me aguentaria muito tempo não. Sou chato pra chuchu.

Abração.

RICARDO LEITE.

FONTE:
www.ricardoleitecomvoce.com.br

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